Na verdade, então, se a bebida voltasse a ser “coisa de mulher”, estaria resgatando uma tradição histórica, já que, como comentei aqui em outro post, na Antigüidade (estamos falando de sumérios e egípcios antigos), a cerveja era considerada alimento, e, por isso, sua produção era tarefa feminina.
Mulheres da elite produziam cerveja no Império Inca
Mas nem só na Antigüidade oriental cerveja era coisa de mulher... A descoberta de uma cervejaria anterior ao Império Inca, no alto das montanhas do Peru, por uma equipe de arqueólogos do The Field Museum (de Chicago), em 2004, apontou para a fabricação da bebida por mulheres da elite, escolhidas por sua beleza. Depois, os espanhóis do século XV confirmaram em seus relatos terem encontrado mulheres-cervejeiras na sociedade inca.
Na Europa, conhecemos bem um pedaço da história de cevada & lúpulo: com a queda das civilizações antigas e o avanço do Cristianismo, a produção da bebida acabou delegada aos mosteiros, considerada um líquido que alimenta e ajudando os monges a suportar melhor os longos jejuns...
Mulheres-cervejeiras brasileiras
Nos últimos anos, é impressionante como elas, as mulheres, têm galgado posições de destaque no mundo da cerveja, aqui em nosso país!
Confira:
Cilene Saorin, que mora em São Paulo, é a atual presidente da Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte / COBRACEM. Ela tem uma bagagem impressionante: é formada em engenharia de alimentos, especializada em marketing, e mestre-cervejeira com graduação na Universidad Politécnica de Madrid – Escuela Superior de Cerveza y Malta, onde atualmente dá aulas no curso de ‘Gestão Sensorial na Indústria Cervejeira’. E tem mais: ela faz parte do grupo de jurados degustadores profissionais de cerveja dos eventos World Beer Cup nos Estados Unidos e European Beer Star na Alemanha!
Kátia Jorge foi a alma por trás da fórmula da cerveja Devassa, a bem-sucedida experiência de cerveja artesanal que despontou em 2002, conquistou os paladares cariocas e hoje é distribuída até em Londres. Kátia não está mais na Devassa e, por e-mail, nos conta que está envolvida em outra microcervejaria que vai estrear em dezembro deste ano, com um bar, no bairro carioca do Leblon. Por enquanto a marca é segredo de estado! E ela é um exemplo vivo da versatilidade feminina, que assoviam e chupam cana, bem que eu gostaria de saber como fazem! Kátia Jorge é expert tanto em bebidas alcoólicas como não-alcoólicas, acaba de desenvolver um projeto de bebida com chá verde e outro de isotônicos...
Ana Paula Freitas, mestre-cervejeira da Ambev, está à frente do recente lançamento da primeira cervejaria virtual 3D do mundo, da brasileiríssima Bohemia! Dá para dar um passeio pelo resultado em http://www.bohemia.com.br/. Também pudera, Ana Paula é mais uma que caprichou na formação, e em 2004 já tinha conquistado o International Diploma in Brewing Technology, em Chicago (EUA) e Munique (Alemanha).
Ou seja, em se tratando do casamento Mulheres&Cerveja, elas não deixam lugar para amadorismos! São super-profissinais dedicadas. Que o diga a direção do Centro de Tecnologia do SENAI, em Vassouras, RJ, conhecido como Universidade da Cerveja, que ano a ano vê suas turmas cada vez mais freqüentadas por mulheres. Um dos últimos cursos registrou um número recorde de alunas, superando o de alunos. Prometo trazer dados atualizados em próximo post.
CONFECE, mulheres se organizam em confraria
Em Belo Horizonte, há uma bem-estruturada Confraria Feminina da Cerveja, a CONFECE (que nome ótimo!), com estatuto, pesquisa, degustação e muito prazer!
Prazer é o que não falta no ritual da degustação de cerveja, harmonizada com o alimento. Cerveja acompanhando até sobremesa! Há pouco tempo a mestre-cervejeira Ana Paula de Almeida, deu um show no assunto! Veja aqui a experiência e o cardápio, com direito a receitas, publicadas no Caderno de Gastronomia do jornal gaúcho Zero Hora.
Até breve,
Jean-Claude
-----------------------------------------------------------------------------------------
Crédito da imagem: National Women's History Museum / Gutemberg Project